Tuesday 28 April 2009

A Bola e a Metralhadora

O jogo de futebol decorria animadamente. Uma das equipas faz um brilhante contra ataque e o termina belamente marcando um bonito golo. É a eufória fora e dentro do campo. Jogadores e adeptos no estádio jubilam. Os telespectadores vendo o jogo pela televisao dao saltos e gritos de alegria. Milhares de crianças estao com os olhos fixos no ecra em milhares de televisores pela Angola fora. Seus idolos estao em campo fazendo o que deviam. Jogar bonito e estar a frente do adversário no marcador. Querem um dia ser como eles. Vestirem a camisola da equipa do seu coraçao e representa-la no Girabola ( o campeonato Angolano de futebol ). Que honra seria. As acçoes e palavras destes jogadores sao mais importantes para algumas destas crianças do que qualquer coisa que pais e professores possam dizer ou fazer. Durante a celebraçao a equipa que marcou o golo, encena uma marcha militar. Vários jogadores em fila marcham. De repente o jogador que marcou o golo, vira-se para os que marcham em fileira militar e simula o uso de uma metralhadora. Dispara sobre os seus companheiros que simuladamente caem mortos. O publico aplaude. Os telespectadores sorriem. As crianças apanham facilmente o ponto: Matar é OK desde que sejamos nós a faze-lo. Usar armas nao é problema, apesar da campanha que se faz contra elas. Ironicamente pela corporaçao a que os simuladores fazem parte. É a cultura da guerra, da violência que entre nós se instalou. Jornais locais nao mencionam o facto. “É normal”, talvez pensem, “nao há nada de errado” muitios raciocinam, “é apenas uma brincadeira inocente”, dissem outros. No entanto se pudessemos ler nas mentes infantis que observaram a “brincadeira” compreenderiamos que estas aprendem coisas sérias brincando. Provavelmente estamos a plantar mais sementes para violência e desvalorizando o esforço do governo em diminuir os nivéis de violência e melhorar o nível social do Angolano. Senhores vamos maneirar. Vamos ser mais responsáveis. Bem, vou tirar o pé antes que me metralhem.

Sunday 26 April 2009

O Encontro

Por: Cardoso Jr


O sol escaldante convidava os banhistas a mergulharem na água. O mar calmo, com ondas nao brávias, era o lugar ideal para ficar naquela praia semi deserta -se comparada com as mais movimentadas da cidade de Luanda. Familias sorrindo divertiam-se alegremente. Homens de barriga grande apreciavam cerveja gostosa. Nocal, cuca ou Eka, nao importava a marca. O que o angolana gosta é de uma geladinha em tempo quente. Mulheres com fatos de banho escandalosamente pequenos e finos passeavam pela praia. Jovens recuperavam-se da ressaca da noite anterior dormindo aqui e ali ao longo da praia cheia de area branca e fina. Chineses que participam na reconstruçao do pais esqueciam por um dia o trabalho e deliciavam-se na água azul da ilha de Luanda. Nas pedras gigantes que apareciam ao longa da costa, alguns sentiam a briza agradável de uma manhã de domingo. Bem junto a Estrada senhoras alegres vendiam de tudo um pouco, desde bebidas várias a suculentos pedaços de carne. Ao longo da rua e quase por toda a sua extensão, discotecas, bares e pequenas lanchonetes estavam ai para satisfazer a todos os bolsos vinte e quatro horas por dia.

Mario, cansado de uma semana de trabalho estressante procurava descansar e relaxar a mente lendo um livro. Volta e meia dava um mergulho. Tomava um batido de abacate com um pouco de rum e apreciava os arredores. Olhava os casais a sua volta e um sorriso nostálgico fazia-lhe lembrar aquela que se fora. Tukayana fora o grande amor de sua vida. Mas quizeram as circunstâncias que ela se casasse com outro. Costuma-se dizer que alguns só dao real valor ao quem têm quando o perdem. Ele era a prova viva disso. Voltou o olhar para o livro. ‘Pra que viver de um passado triste ?” O futuro era brilhante e estava ai para ser vivido. Adormeceu. Quando abriu os olhos espantou-se. Haviam passado duas longas horas. Eram 3 da tarde e precisava voltar para casa. Arrumou as coisas e preparava-se para rumar para o carro, quando a viu. Era a criatura mais perfeita que vira em sua vida. Andava calmamente, arrastando os pés na areia. Seu andar era elegante e gazelístico. Seu olhar perdia-se no horizonte. Parecia oblivia a tudo que a rodeiava. Mario voltou a poisar as coisas no chao. Sentou-se novamente na areia. Ficaria ai observando-se a vida inteira se fosse necessário. A Linda moça passou por ele. Quiz disser algo. Faltarem-lhe as palavras. Continuou a olhar para ela. Aquela era a uma deusa na terra. Mecanicamente levantou-se e balbuciou qualquer coisa imcompreensivel em direcçao a jovem senhora. Ela apercebendo de sua presença primeiro olhou para ele desconfiadamente, depois apercebendo-se de sua visivel perturbaçao sorriu. Mariana sabia do efeito que sua beleza tinha em certos homens. Aquele parecia-lhe diferente. Tinha algo de atrativo, que ela nao conseguia ver o que era.
“Desculpe se a incomodo” – disse ganhando a compostura – “Mas nao resisti a tentaçao de conhece-la” – disse finalmente.

“ Cuidado que a curiosidade já matou muito gato “ – Respondeu Mariana sorridente. Esta estranhou sua reaçao. Noutras circunstâncias teria repelido qualquer contacto com homens estranhos. Mas aquele dava-lhe um senso de segurança que a muito nao sentia.

Passados dez minutos falavam como se tivessem conhecido a muito tempo. O sorriso dela parecia musica aos ouvidos de Mário. Pediu-lhe o número de telepone. Ela quis saber para que. Ele disse que era para poder manter a sanidade. Deixar de falar para ela agora que encontrara seria semelhante a vegetar. Conversaram por minutos a fio. Despediram-se com a promessa de almoçarem juntos ao longo da semana. Ela era jurista na area bancária. Ele engenheiro senior de uma petrólifera. Trabalhavam no pequeno circulo que era a baixa de Luanda. Felicissimos despediram-se. Mario viu Mariana subir elegantemente no Hyunday Santa Fé de seu irmao. Acenou para ele. Enviou-lhe um beijo carregado de esperança. Beijou o cartao com o número dela. O carro que levava Mariana partiu e Mário eufórico, ligou imediatamente para o amigo Gildo. “Encontrei a minha princesa. Finalmente !” – gritou de alegria. Sorriu felicissimo. Dirijindo-se para o carro, mal conseguia disfarçar tamanha alegria. Cantarolando “Lady in Red” de Chris DeBorough subiu no carro. Dirijiu o carro em direicçao a casa. O dia estava fechando-se. Eram cinco horas tal foi o tempo que ficara conversando com Mariana. Depois de alguns minutos observou que o tráfego se estava condensando. Os carros estavam andando devagar demais para aquela hora de domingo. Perguntou a um miudo que por ai passava, o porque de tal engarrafamento. O miudo nao sabia. Continuou conduzindo. Mais a frente carros da policia e uma ambulância supevisionavam um acidente. Aproximou-se calmamente. Foi entao que o coracao quase lhe saiu pela boca. O carro acidentado era um Hyunday Santa Fé cor de cinza. Encostou o carro e como louco correu em direcçao ao lugar do sinistro. Incrédulo observou que dois corpos estavam completamente esmagados dentro do carro sobre o qual caira um contentor de quarenta pés, sustentado sobre um caminhao mal seguro. Gritou histéricamente e correndo rompeu a barreira policial achegou-se ao carro. Era Mariana e o irmao. Sentou-se no chao e chorou como um bebé. Ouviu apenas o policial. Dizer: “É mais um motorista irresponsável que tirou a vida de dois jovens inocentes e cheios de futuro” Perdeu os sentidos. Acordou na clinica sagrada esperança para onde fora levado. Perguntou que horas eram e o que fazia ai. Explicaram-lhe que perdera os sentidos na praia, presumindo-se que por ter tomado muito sol. A Médica que o atendia tinha um sorriso extraordinário e era parecida a menina do seu sonho. Nao tinha perdido a sua Mariana afinal de contas. Compreendeu que ao ler o livro debaixo do sol intenso perdera os sentidos. Fora levado ao hospital onde meio dormente ainda conseguirá ser a médica que se tornará a dona do seu sonho. Afinal ela estava viva. Nao diria nada a ninguém, voltaria mais tarde para outra consulta e para conhecer melhor aquela criatura que tanto no sonho como na vida real estava tomando conta da vida dele. Deu-se-lhe baixa. Doutora Mariana achou que nao havia necessidade de mante-lo hospitalizado. O sorriso e a simpátia dela era iguais aos do sonho. Ela disse estar cansada e na hora de terminar o seu periodo de trabalho. Despediu-se dele. Alegre por ter sido apenas um mau sonho, que resultará em encontar-se com ela, Mário dirigiu-se a porta de saida. Mariana estava lá também. A ver chegar um carro, ela saiu correndo para abraçar o marido e os dois filhos. Parecia felicissima. Aquela mulher parecia amar profundamente a sua familia. Sua reacção ao ve-los falava por si. Mário parou estarrecido. Observou a felicidade de Mariana e compreendeu que afinal o pesadelo continuava na vida real.

Friday 24 April 2009

Chegou Sexta Feira !!!!

Sexta feira chegou. Dizem que é o melhor dia da semana. O que eles querem dizer é que começarao as festas, os comes e bebes, o descanso e a descontraçao. Nada de errado com isso, visto que até mesmo o livro sagrado diz que “é bom que o homem coma, beba e veja o que é bom por todo seu trabalho árduo”. Sendo assim e para nao estragar a Sexta Feira vou falar apenas de coisas boas. Afinal hoje é Sexta Feira. Primeira vou enviar Mil Kudos ( Kandandos, congratulations, Salutations, votos de um fim de semana belissimo) a senhora Espirito Santo – Para os menos atentos ela é a chefe de Luanda. La governadora. Aquela que pode aqui no sitio. A razao é que ai na rua defronte ao Gamek foi criada uma passagem area para peoes. No antigamente, isto é a algumas semanas atras, o trafego era severamente engarrafado devido a multidao de estudantes, trabalhadores, vendedoras de Mercado (Kinguilas ) e outros que por aquelas bandas abundam. Hoje, para além dos taxistas mal educados e indisciplinados ninguém mais faz confusao. Vive-se um semi paraiso no gamek. Well done Madam. Por outro lado na rua da Samba, ali junto ao comando da policia da samba, entre duas das mais congestionadas e perigosas ruas do municipio, onde travessar a rua é um sério risco a saúde e segurança publicas foi construido um mini parque infantil. Os putos na falta de entretenimento povoaram o lugar. É ve-los brincando e pulando depois da escola. A questao que coloco é: Porque carga de água nao foi a boa acçao feita dentro do bairro longe do perigo que até cego vê ? Será que o objectivo é dar nas vistas ? Será que no bairro nao se veria a boa acçao ? A verdade é que Deu-se na vista, mas pela negativa, porque qualquer pessoa ve que aquele é o pior lugar da samba para se criar um parque infantil. Já estou a ouvir alguém gritando : “Ei José cala mazé essa boca, nao prometeste falar só de coisas boas ?” Ok vou ficar por aqui, mas pelo amor que temos pelas nossas crianças, que doravante nao se construam mais lugares como aqueles a beira da Estrada ou de qualquer lugar perigoso. Mas e para finalizar numa nota colorida, importa realçar que também no local foi constuido um belo semáforo, daqueles que só existem no largo primeiro de Maio. Tenham todos um fim de semana cheio de alegrias, boa conduçao e muito romance ( a esposa e ao marido ok ? )

Monday 20 April 2009

As razoes da quentura Luandina

Já me ia esquecendo. Luanda ultimamente esta insuportavelmente quente. Cada um é livre de especular sobre as razoes. No inicio do ano quando as chuvas escasseiavam, alguns iluminados e muito dados a bruxedos e quejandos diziam que tinham sido alguns membros do governo que amarram a chuva, para que estas nao destapassem as estradas do asfalto novo que fora posto com muito sacrificio e esforço. Outros [ mais lógicos ] disseram que era das mudanças provocadas pelas mudança do clima. Eu venho dizer-vos que há uma explicaçao mais lógica. Mais racional. Quem ganha com um clima quente ? Quem vende muito quando Luanda aquece como fornalha ? OK vejam se essa nao tem lógica: os unicos que ganham sao os negociadores de bebidas. Cervejeiros, gasoseiros, kissanqueiros, kimbombeiros, e até os que vendem camioes de agua pela Luanda fora. Amigo(a) acho que anda por ai uma conspiraçao para aquecer-se Luanda. Pode parecer besteira, mas o que era besteira ontem é realidade hoje. Lembram-se de Galileu ? De Steve Jobs, Da Vinci, e de mim ? OK se nao acredita pode passar e nao pense mais neste teoria estupida. Mas ca por mim, deve haver por ai um sindicato de cerebros conspirando contra nos…



Luanda: O Dinheiro é que esta a dar




Em Luanda vive-se. Bem ou mal isto ai já sao outros quinhentos. Bem, quero dizer, depende do observador ou do vivente da situaçao. Estou aqui a escrever-te esta carta porque ainda estou vivo. Alguns bazaram, ontem e outros tantos hoje mesmo. Sabes, por aqui a vida esta barata. O dinheiro é que esta valendo, mas nao tenhas ilusoes. Estou falando de muito kumbú, nao a miséria que ganhamos. Se nao tiveres os bolsos cheios de verdes e verdinhas estas mal. Muito mal. Podes morrer aí na esquina que ninguém te vai prestar a minima atençao. Hoje cheguei ao trabalho e a tia que cuida do café perguntei: “Tia como foi o fim de semana ?“ Ela com um olhar e fisionomia que nao lhe eram habituais retorquiu tristemente: “Ah, sobrinho o fim de semana, nao foi nada bom” Tinham-lhe matado a sobrinha. A malograda ( como por aqui chamamos os que morrem) deixa dois filhinhos de menos de 7 anos. O ex-namorado apareceu em casa dela enquanto sozinha, e procurou saber porque carga de água nao queria continuar com o namoro que terminara a um ano e meio. Perante a relutância da pobre senhora em nao recomeçar o namoro, o meliante bateu nela com toda a força que o diabo lhe dera e a menina que a 27 anos viera ao mundo nao resistiu a tanta pancada. Pos consumado o crime, pegou no corpo, colocou-a na cama e ele deitando-se na mesma cama adormeceu. Na manha seguinte os vizinhos questionavam-se o porque de tanto barulho na casa da vizinha na noite anterior ( Grande solidariedade a nossa ne ? quando ela mais precisava todos recusaram-se a dar a cara ). Depois de alguma investigacao deram com o sujeito malandro dormindo descaradamente um pesadissimo sono junto da morta. Uma pesadissima porrada seguiu-se e indagacao costumeira : Vamos mata-lo a porrada ? Prevaleceu o bom senso e a policia foi chamada.
Infelizmente aqui entre nós a vida perdeu o sentido. O dinheiro é que esta a mandar. Mas nao penses que isso ai é tudo. Luanda é muito, muito mais. Isto aqui é a unica cidade do mundo ( pelo menos que eu saiba) onde conduzes por duas horas e meia para fazer um trajecto de 15 kilometros, das quais duas horas na primeira mudança, tal é a desfluidez do transito. Aqui vive-se no transito. Em media 3 horas de manha, 3 horas a tardinha. 6 horas por dia !!!! . Come-se no transito, bebe-se no transito fazem-se compras, telefona-se a esposa e aos amigos, fazem-se negócio no transito e apanha-se muitos ataques cardiacos. A unica coisa que nao é permetida é dormir-se no transito. Nao que nos falta a vontade ( tal é o tempo gasto conduzindo, debaixo de um sol escaldante num carro muitas vezes sem o sistema de condicionado roubado no porto de Luanda ). A tensao arterial anda muita alta por estas bandas. Por isso primo, vou já te avisando. Em Luanda vive-se mas a maneira angolana. Ninguém está parando nos pouquissimos semáforos que nao abundam pela cidade. As criancas estao com medo de atravessar as ruas, porque os carros estao loucos, sem que ninguém os controle. Tem rua chamada de “parte cabeça”, onde pelo menos todas as semanas alguém morre, devido a caóticidade do transito. Linhas de controle de transito, semafóros, cameras para punir transgressors, sao coisas simples que nao existem. Aqui vive-se a nossa maneira. Triste. Para dar mais raiva, nao esta sendo possivel dormir ou descansar aos fins de semana. Alguns vizinhos nao deixam. As colunas dos aparelhos de música que usam sao maiores que a cama em que dormem, e fazem uso pleno de sua potência. Indiscriminadamente. Pede-se que parem de fazer tanto barulho. Dizem que tens inveja da boa vida que levam. Tentas raciocinar com o chefe de casa. No principio diz que ninguém tem de meter-se na vida dele. Depois de raciocinares um pouco com ele, promete fazer algo, mas logo te apercebes que quem manda em casa nao é ele. Os seus ( muitos ) deliquentes em casa mandam e determinan como e quando se usa a musica. Telefona-se a policia e a resposta é tao dificiente que o pouco respeito que tinhas pela instituiçao desaparece e prometes nunca mais lidar com eles. Isto é Angola, dizem. Isto é Angola, constato. Nao te quero deprimir primo, mas aqui vive-se, só que a nossa maneira. Uma maneira muito estanha de viver-se. Até as senhoras mudaram. Gritam e ofendem ao conduzir. Hoje já nao podes sorrir ou comprimentar uma colega de trabalho. Vai logo pensando que estas com interesses. Como se as lindas mulheres por quem nos casamos por muito amor nao existissem. Será que temos de andar todos carrancas e passar pelas pessoas com quem trabalhamos ou que encontramos nas reparticoes publicas sem poder dizer bom dia ? Isto aqui virou matongué, que nos anos idos era tido como sinónimo de confusao. Hoje estamos pior. Do top da cabeça a sola do sapato, precisamos de uma operaçao transformadora. Todo angolano ao pisar o solo nacional, pira um pouco. O ambiente nao é para menos. Tá muito quente e muito dura esta vida puramente angolana. Mas nem tudo vai mal. O governo esta tentando construir 1.000.000 ( um milhao ) de casas em quatro anos. 250.000 por ano. Ze Du esta pensando grosso e grande. Esta mudando a lei para beneficiar o angolano no Mercado de trabalho. Há sinais de melhoria. Há uma luz no fundo do tunel. A coisa vai avançar, mas enquanto a mudança nao for drástica continuaremos a viver um vida miseravél com pitadas de alegria forçada. Enquanto isso meu amigo Emmanuel vai ter de aguentar os seus vizinhos. O pobre homem teve a infelicidade de perder a vizinha. Os familiares desta dicidiram colocar o caixao mesmo a entrada do predio. Ja imagiram o cenario ? Todo o morador ou visitante, visitava tambem aquela que se foi. Os kandengues que nunca viram pessoa morta, confrontaram-se com ela ao chegarem da escola. Depois veio a festa. É isso ai primo. Em Angola óbito é regado com comes, bebes e muita musica. Nao , nao musica funebre ou classica. ‘tou falando de musica que esta a bater nas paradas mundiais do kizomba, Samba e Hip Hop. Serio meu parente, chegamos a esse ponto. Uns dizem que era da vontade do defunto. Outros que é em memoria do defunto. A verdade é que hoje chegamos a um ponto tao baixo que estamos festejando a morte do proximo. Quem diria hem ? OK, priminho vou ficar por aqui. Sei que ‘tas vindo ‘pra banda para dares o teu contributo. Nao te quero assustar. Por isso vou guardar o resto pra outro dia, quando estivers sentado e no hospital, bem perto dos medicos que poderao te socorrer em caso de um AVC. Nao, nao é uma nova marca de roupa, estupido, é a nova aquisicao mortifera dos angolanos. Tambem vou ja parar de te contar esses mambos. Tou sentindo meu coraçao bater rapido demais. Tchau.

Wednesday 8 April 2009

Onde anda o sorriso Angolano ?





Num destes dias fui ao supemercado ( parte de uma rede de lojas bem conhecida e aparentemente originária das terras de Mandela ). Depois de ficar escandalisado com os preços dicidi encher o meu cesto de compras e finalizar o meu passeio pelo Belas Shooping. Pacientemente suportei por quase vinte minutos a fila de clientes dispostos a pagar pelas compras feitas e finalmente chegou a minha vez. Puz as minhas compras no balcão da caixa registadora e esperei. A senhora que me devia atender, olhou para mim, com aquele olhar de quem diz “Estas a espera que te chame ? ” e friamente disse: “Puxe as coisas para junto de mim.” Eu desculpei-me, visto que, não me dera conta que a caixa não tinha um tapetesinho rolante a que estava habituado. ( Para melhor compreensão do leitor vivi os ultimos quinze anos fora de Angola). Enquanto era atendido olhava atentamente para a expressão facial da senhora que me (des)servia. Seu rosto era a personificacão do desprezo para com o cliente. Dele pude tirar varias ilações: 1. “Voces são uns chatos, uma sujeita vem trabalhar e tem que aturar essa gente que so me da trabalho”. 2. “Quem estes pensam que são ? Acham que podem vir aqui e exigir um sorriso da minha parte ? Nem morta !” 3. “Se pudesse nem estaria aqui. Estaria num cabeleireiro recebendo o tratamento que uma senhora como eu merece”

No final do atendimento agradeci e não tive resposta. Dirigi-me então a seccão onde deixara ficar as coisas que não eram permetidas dentro do local de compras. A jovem senhora de quase trinta anos que lá encontrei ja me tivera dado um tratamento silencioso e frio ao deixar as minhas coisas. Ao entrar para a loja encontrei-a sentada e de bracos cruzados a espera do proximo chato. Aproximei-me e entreguei os meus haveres. Ela levantou-se mole e lentamente e arrastando os pés pegou as minhas coisas e colocou-as numa das gavetas. Trouxe então uma placa numerada e estendendo a mão na minha direccao deu-ma. Neste processo todo, nem uma palavra foi dita, nem um sorriso foi esboçado, apesar de eu a ter cumprimentado e sorrido para ela. Ao terminar as compras e a caminho de buscar as minhas coisas, estava dicido a mudar o cenário. Cumprimentei-a novamente e sorri. Depois disse “Cara senhora muito obrigado por sua gentileza em guardar minhas coisas. Sabe, seu trabalho é importante para mim e espero que tenha um bom dia.” Para minha supresa ela sorriu. Seu rosto ao sorrir tornou-se mais belo, mais jovial. Se ela sorrisse mais vezes e procurasse ter uma atitude mais amistosa acredito que poderia, caso fosse solteira, casar-se com quem quisesse, Big Nelo, Zedu dos Santos, Pedro Nzagi ou puto prata.

A dias estava falando com um colega expatriado (Inglês) e uma observacão feita por ele foi que angola é um pais lindo. Tem um clima maravilhoso. Tem praias agradabilissimas, mas notou que as pessoas na rua não sorriem. O que o homem quiz gentilmente dizer-me é que não somos amistosos.

A algumas semanas dirigi-me a um dos bancos da nossa capital, ai junto ao ministerio das relacões exteriores perto da rua rainha njinga. Ao sair apercebi-me que vinha a minha trás um distinto senhor, bem aprumado e com ares de gente importante. Como de costume dicidi dar-lhe primazia e, abrindo a porta deixei-o passar. Esperava um sorriso, um obrigado, qualquer coisa que denotasse agradecimento ou simpatia. Recebi silêncio. Falando cá com os meus botões dicidi que doravante no futuro faria gentilezas daquela espécie apenas a gente de aparência humilde, visto que os aparentemente mais favorecidos materialmente pareciam ter o rei na barriga. Mais tarde cheguei a conclusão de que seria tolo da minha parte mudar a minha maneira de ser por causa das mas maneiras de um punhado de gente mal educada.
Vivemos na Luanda de hoje, numa sociedade nada gentil, pouco, mais muito pouco mesmo elegante. A dias enviei um email ao chefe do departamento de transportes da empresa para quem trabalho. A razão do meu email, foi que o motorista que transportou-me de casa para o local de trabalho fizera algo fora do comum: Parou nos dois semáforos que encontrou no trajecto que faziamos. Quando encontrou senhoras zungueiras atravessando a rua, deixou-as gentilmente passar. Respeitou velhas e crianças na rua e não buzinou desnecessariamente a outros motoristas. Impressionado dicidi dividir isso com o chefe dele. Para minha satisfação o meu homem retornou o email dizendo que o motorista seria proposto para receber o titulo de motorista exemplar naquele mês.

Eu sou daqueles que acreditam no poder de um sorriso. Sorrir ao sair de casa diz a esposa, ao marido e aos filhos o quanto os amamos. Sorrir ao vizinho transmite-lhe a ideia de que o apreciamos e desejamos-lhe um bom dia. Sorrir ao guarda da empresa que passou a noite toda em claro, ajuda-o a acreditar que seu esforço não foi em vão, que serve a pessoas que valorizam o seu sacrificio. Sorrir ao colega de trabalho esteja ele(a) sob nosso comando ou seja superior hierarquico, passa a mensagem de termos prazer em trabalhar com ele(a), que faremos o nosso melhor para ajuda-lo(a) no que for necessario. Sorrir para o cliente passa a este a ideia de que sem ele não teriam a oportunidade de estar ai trabalhando para sustentarmos nossos entes queridos.

Ainda acredito que um dia sorriremos mais. Não um sorriso falso, mas um genuino, e voltaremos a ser uma nacão mais amiga e fraterna, cada um importando-se um pouco mais com a felicidade do próximo.









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