Monday 20 April 2009

Luanda: O Dinheiro é que esta a dar




Em Luanda vive-se. Bem ou mal isto ai já sao outros quinhentos. Bem, quero dizer, depende do observador ou do vivente da situaçao. Estou aqui a escrever-te esta carta porque ainda estou vivo. Alguns bazaram, ontem e outros tantos hoje mesmo. Sabes, por aqui a vida esta barata. O dinheiro é que esta valendo, mas nao tenhas ilusoes. Estou falando de muito kumbú, nao a miséria que ganhamos. Se nao tiveres os bolsos cheios de verdes e verdinhas estas mal. Muito mal. Podes morrer aí na esquina que ninguém te vai prestar a minima atençao. Hoje cheguei ao trabalho e a tia que cuida do café perguntei: “Tia como foi o fim de semana ?“ Ela com um olhar e fisionomia que nao lhe eram habituais retorquiu tristemente: “Ah, sobrinho o fim de semana, nao foi nada bom” Tinham-lhe matado a sobrinha. A malograda ( como por aqui chamamos os que morrem) deixa dois filhinhos de menos de 7 anos. O ex-namorado apareceu em casa dela enquanto sozinha, e procurou saber porque carga de água nao queria continuar com o namoro que terminara a um ano e meio. Perante a relutância da pobre senhora em nao recomeçar o namoro, o meliante bateu nela com toda a força que o diabo lhe dera e a menina que a 27 anos viera ao mundo nao resistiu a tanta pancada. Pos consumado o crime, pegou no corpo, colocou-a na cama e ele deitando-se na mesma cama adormeceu. Na manha seguinte os vizinhos questionavam-se o porque de tanto barulho na casa da vizinha na noite anterior ( Grande solidariedade a nossa ne ? quando ela mais precisava todos recusaram-se a dar a cara ). Depois de alguma investigacao deram com o sujeito malandro dormindo descaradamente um pesadissimo sono junto da morta. Uma pesadissima porrada seguiu-se e indagacao costumeira : Vamos mata-lo a porrada ? Prevaleceu o bom senso e a policia foi chamada.
Infelizmente aqui entre nós a vida perdeu o sentido. O dinheiro é que esta a mandar. Mas nao penses que isso ai é tudo. Luanda é muito, muito mais. Isto aqui é a unica cidade do mundo ( pelo menos que eu saiba) onde conduzes por duas horas e meia para fazer um trajecto de 15 kilometros, das quais duas horas na primeira mudança, tal é a desfluidez do transito. Aqui vive-se no transito. Em media 3 horas de manha, 3 horas a tardinha. 6 horas por dia !!!! . Come-se no transito, bebe-se no transito fazem-se compras, telefona-se a esposa e aos amigos, fazem-se negócio no transito e apanha-se muitos ataques cardiacos. A unica coisa que nao é permetida é dormir-se no transito. Nao que nos falta a vontade ( tal é o tempo gasto conduzindo, debaixo de um sol escaldante num carro muitas vezes sem o sistema de condicionado roubado no porto de Luanda ). A tensao arterial anda muita alta por estas bandas. Por isso primo, vou já te avisando. Em Luanda vive-se mas a maneira angolana. Ninguém está parando nos pouquissimos semáforos que nao abundam pela cidade. As criancas estao com medo de atravessar as ruas, porque os carros estao loucos, sem que ninguém os controle. Tem rua chamada de “parte cabeça”, onde pelo menos todas as semanas alguém morre, devido a caóticidade do transito. Linhas de controle de transito, semafóros, cameras para punir transgressors, sao coisas simples que nao existem. Aqui vive-se a nossa maneira. Triste. Para dar mais raiva, nao esta sendo possivel dormir ou descansar aos fins de semana. Alguns vizinhos nao deixam. As colunas dos aparelhos de música que usam sao maiores que a cama em que dormem, e fazem uso pleno de sua potência. Indiscriminadamente. Pede-se que parem de fazer tanto barulho. Dizem que tens inveja da boa vida que levam. Tentas raciocinar com o chefe de casa. No principio diz que ninguém tem de meter-se na vida dele. Depois de raciocinares um pouco com ele, promete fazer algo, mas logo te apercebes que quem manda em casa nao é ele. Os seus ( muitos ) deliquentes em casa mandam e determinan como e quando se usa a musica. Telefona-se a policia e a resposta é tao dificiente que o pouco respeito que tinhas pela instituiçao desaparece e prometes nunca mais lidar com eles. Isto é Angola, dizem. Isto é Angola, constato. Nao te quero deprimir primo, mas aqui vive-se, só que a nossa maneira. Uma maneira muito estanha de viver-se. Até as senhoras mudaram. Gritam e ofendem ao conduzir. Hoje já nao podes sorrir ou comprimentar uma colega de trabalho. Vai logo pensando que estas com interesses. Como se as lindas mulheres por quem nos casamos por muito amor nao existissem. Será que temos de andar todos carrancas e passar pelas pessoas com quem trabalhamos ou que encontramos nas reparticoes publicas sem poder dizer bom dia ? Isto aqui virou matongué, que nos anos idos era tido como sinónimo de confusao. Hoje estamos pior. Do top da cabeça a sola do sapato, precisamos de uma operaçao transformadora. Todo angolano ao pisar o solo nacional, pira um pouco. O ambiente nao é para menos. Tá muito quente e muito dura esta vida puramente angolana. Mas nem tudo vai mal. O governo esta tentando construir 1.000.000 ( um milhao ) de casas em quatro anos. 250.000 por ano. Ze Du esta pensando grosso e grande. Esta mudando a lei para beneficiar o angolano no Mercado de trabalho. Há sinais de melhoria. Há uma luz no fundo do tunel. A coisa vai avançar, mas enquanto a mudança nao for drástica continuaremos a viver um vida miseravél com pitadas de alegria forçada. Enquanto isso meu amigo Emmanuel vai ter de aguentar os seus vizinhos. O pobre homem teve a infelicidade de perder a vizinha. Os familiares desta dicidiram colocar o caixao mesmo a entrada do predio. Ja imagiram o cenario ? Todo o morador ou visitante, visitava tambem aquela que se foi. Os kandengues que nunca viram pessoa morta, confrontaram-se com ela ao chegarem da escola. Depois veio a festa. É isso ai primo. Em Angola óbito é regado com comes, bebes e muita musica. Nao , nao musica funebre ou classica. ‘tou falando de musica que esta a bater nas paradas mundiais do kizomba, Samba e Hip Hop. Serio meu parente, chegamos a esse ponto. Uns dizem que era da vontade do defunto. Outros que é em memoria do defunto. A verdade é que hoje chegamos a um ponto tao baixo que estamos festejando a morte do proximo. Quem diria hem ? OK, priminho vou ficar por aqui. Sei que ‘tas vindo ‘pra banda para dares o teu contributo. Nao te quero assustar. Por isso vou guardar o resto pra outro dia, quando estivers sentado e no hospital, bem perto dos medicos que poderao te socorrer em caso de um AVC. Nao, nao é uma nova marca de roupa, estupido, é a nova aquisicao mortifera dos angolanos. Tambem vou ja parar de te contar esses mambos. Tou sentindo meu coraçao bater rapido demais. Tchau.

1 Comments:

At 16 July 2009 at 11:10 , Anonymous Anonymous said...

Porque náo existe empresa que cuide do transito, ai? Será que não sabem escolher profissionais que lidam com este problemas em grandes cidades, como por exempló no Brasil, na cidade de São Paulo!!!

 

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home